Jesus, o Modelo de Masculinidade Bíblica em Ef 5.21-33
- Rev. Ubirani Alves
- 13 de mar. de 2020
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Olhar para Jesus como o modelo de masculinidade bíblica pode trazer uma estranheza para alguns, mas subjaz a isso o fato de muitos não entenderem o que significa virilidade ou masculinidade bíblica, pois atrelam a virilidade a sexualidade, o que é uma visão reducionista e equivocada, já que para a Escritura a masculinidade é muito mais que sexualidade, envolve um conjunto de ações ou comportamento que se espera do homem e isso dado ao fato de sua criação. Uma outra maneira de dizer isso, é que masculinidade tem a ver com a maneira como o homem foi criado, ou seja, ele foi criado para ser o cabeça, para ser líder e essa liderança é vista em atitudes. É aqui onde podemos ver Jesus como modelo, pois ele é o cabeça e o líder por excelência e se queremos ser homens excelentes devemos imitar Jesus.
Esse é justamente o propósito do apostolo Paulo em Ef 5.22-33, mostrar Jesus como o arquétipo de masculinidade, como o modelo que o homem deve seguir ao tratar sua esposa, pois assim como o homem é o cabeça da mulher Cristo é o cabeça da igreja (Ef 5.23) e assim como Cristo lidera a igreja o homem deve liderar sua mulher.
1. Jesus, o modelo de sujeição masculina.
O verso 21 serve como uma tese: os cristãos cheios do Espírito (5.18) devem ser sujeitos uns aos outros, nos versos seguintes (5.22-6.1-9) Paulo vai desenvolver essa tese mostrando como cada cristão deve se sujeitar uns aos outros, cada um em seu turno como diz Calvino.
O termo grego ὑποτάσσω (hipotasso, sujeição) que aparece no verso 21 é formado pela preposição ὑπο (hipo), debaixo de, sob e o verbo τάσσω (tasso), colocar, designar, servir, dedicar, logo o termo é visto como: colocar algo sob o rígido controle de alguém, sujeitar a, pôr o controle, controlar, mas um estudo do uso da palavra no NT, a qual ocorre cerca 40 vezes, mostra que o termo não significa só colocar ou ser controlado, mas uma submissão voluntária para servir a alguém, se colocar para ajudar, socorrer.
O termo ὑποτάσσω (hipotasso) aparece como particípio presente passivo no verso 21 (ὑποτασσόμενοι, hipotassomenoi, sujeitando-vos), no verso 22 como imperativo presente na voz média (ὑποτάσσεσθε, hipotassesthe, sujeitai-vos) e no verso 24 como indicativo presente passivo (ὑποτάσσεται, hipotassetai, sujeita). Só na primeira ocorrência é aplicado a todos cristãos e por estar no passivo indica uma submissão voluntária. As outras duas referências estão relacionadas diretamente com a igreja e sua relação com Cristo, assim, como a relação da esposa com seu marido. Mas mesmo o termo não sendo usado diretamente para tratar o relacionamento do marido para com sua esposa, o uso no verso 21 como vimos é uma ordem paulina para que todos os cristãos se submetam uns aos outros. Assim, a mulher se submete ao homem sendo submissa e o homem se submete a mulher a amando e a servindo, a mulher se submete ao homem abrindo mão de si mesma para ser submissa a ele, e o homem se submete a mulher abrindo mão de si mesmo para amá-la e servi-la e é aqui que Cristo torna-se um modelo de sujeição masculina, pois ele abriu mão de si mesmo para servir a sua igreja na cruz (Fp 2.5-8).
A sujeição não significa que Cristo é inferior à igreja, mas que voluntariamente mesmo sendo Deus e não precisando fazer isso ele fez, em obediência ao Pai e em amor pela sua noiva, a igreja. Assim, a sujeição não significa que o homem ou a mulher são inferiores em relação um ao outro, mas que da mulher se espera uma atitude de submissão e do homem uma atitude de amor serviu, e ninguém demonstrou mais esse amor por sua esposa, a igreja, do que Cristo.
Como homens, devemos olhar para o exemplo de Jesus que se tornou servo para servir a sua esposa, a igreja, e assim estarmos prontos a assumir a submissão masculina nos colocando como servo de nossa esposa.
1. Jesus, o modelo de sacrifício exigido do homem.
No versículo 25 os maridos são exortados a amarem as esposas como Cristo amou a igreja, e a frase “a si mesmo se entregou por ela” visa expressar a intensidade desse amor. Cristo amou a igreja a tal ponto que deu a sua vida para salvá-la, é claro que o homem não pode salvar sua esposa, mas o que se espera dele é que assim como Cristo morreu para suprir a necessidade de sua igreja, o homem esteja sempre pronto a se sacrificar pelo bem de sua esposa, esse verso mostra Jesus como o modelo ideal de sacrifício pela esposa, a igreja, o homem deve olhar para o sacrifício de Cristo e assim cultivar um amor sacrificial por sua esposa.
No verso 28 Paulo ordena aos homens amarem suas esposas, ele não pode ordenar que alguém produza uma emoção, o que o apóstolo faz aqui é ordenar uma ação, isso mostra a natureza do amor à luz da Escritura, o amor tem mais a ver com o agir do que com o sentir e o parâmetro para esse amor que o homem deve devotar a sua esposa já foi dado no verso 25 é o amor que Cristo sente por sua igreja, um amor sacrificial, um amor visto no fato do juiz se tornar réu, do santo se fazer pecado, do rei do universo se tornar um servo sofredor, um amor visto na abdicação de sua posição exaltada acima de tudo e de todos e se tornar uma criança indefesa em uma manjedoura, sofrer as agruras dessa vida, ser esbofeteado, cuspido, chicoteado, humilhado e morto levando toda ira do Pai sobre si para que sua querida noiva pudesse ter vida.
Os homens são chamados a sublime tarefa de imitar o Amor de Cristo por sua igreja, amando sua esposa, o nosso amor para com a mulher que Deus nos deu não imita o amor de Cristo por sua igreja em seus efeitos, mas deve imitar em sua intensidade.
2. Jesus, o modelo de provisão masculina.
Os versos 23, 25-27 mostram Jesus como modelo de provisão masculina que o homem bíblico deve seguir. Jesus como noivo proveu para sua noiva salvação, um lavar santificador e regenerado, fazendo sua noiva se tornar santa e pura, sem mácula nem ruga e perfeita. Cristo proveu para sua noiva o que ela precisava e o homem deve prover para sua esposa o que ela precisa, seja na área espiritual, material ou emocional. Na espiritual devemos ser o exemplo de piedade cuidando da santidade da esposa através de uma liderança santificadora, na área material devemos suprir as necessidades do lar e também da esposa e na emocional devemos cuidar das emoções das nossas amadas.
Cabe a nós como homens saber e discernir (1Pe 3.7) para a seu tempo e de maneira adequada exercermos a provisão masculina que tanto a nossa esposa precisa e essa provisão tem em Cristo o modelo ideal.
Portanto todo homem bíblico é convocado a seguir o exemplo de Cristo, mas também o homem bíblico deve reconhecer sua incapacidade para tal empreitada, por isso, quero trazer a sua mente aquilo que afirmamos que o verso 21 serve como se fosse uma tese e a tese é: os cristãos cheios do Espírito (5.18) devem ser sujeitos uns aos outros, um homem bíblico entende que nunca poderá ser um imitador de Cristo sem ser cheio do Espírito. Precisamos do Santo Espírito para poder servir a nossa esposa, precisamos do Espírito para amar sacrificialmente a nossa esposa, precisamos do Espírito para discernir e prover as necessidades de nossa esposa, logo, um homem cheio do Espírito Santo é aquele que exerce a masculinidade pautada no exemplo de Cristo.
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Certo servo de Deus, vamos orar quem sabe sai.
Muito bom pastor já é uma parte de um capítulo de um livros , sobre masculinidade bíblica